terça-feira, março 31, 2009

Sublime

Eu não acredito em anjos da guarda, eu acredito em pessoas.

Estava andando pela rua carregando, sem brincadeira ou exagero, uns 7 quilos de materiais nas costas. Peguei ônibus, desci e andei pela rua mais movimentada da cidade. Todo mundo olhando meu andar torto e com dificuldade. Todo mundo fingindo que eu não estava ali.

Até que resolvi parar para arrumar minhas bolsas e descansar.
Aí veio ela: uma velhinha bem simpática se oferecendo pra me ajudar a carregar as coisas.

E eu não sei porque, mas achei injusto, no meio de tanta gente mais nova, mais atlética, mais forte, justamente ela se oferecer para carregar. Eu, muito sem graça, claro, dei a ela o item menos pesado (não existia o mais leve...).

E ela que tinha uma síndrome de nome esquisito no metacarpo, foi andando comigo, dizendo que eu deveria tomar cuidado pois poderia ter alguma lesão na coluna.

Odeio silêncio entre duas pessoas que acabaram de se conhecer.

Mas por um momento, ninguém falou nada. E eu olhei pra ela e a velhinha parecia estar feliz. Aquela tal da felicidade boba, que a gente não sabe explicar como surge. Tinha satisfação nos seus olhos.




A gente se despediu, eu a agradeci e ela me desejou felicidades. Acho que eu nunca mais vou ver ela de novo. Acho até que vai demorar muito para eu viver algo parecido novamente. Pessoas que se doam são raras.

Um comentário:

Laila Hallack disse...

"Eu não acredito em anjos da guarda, eu acredito em pessoas." Lindo, Gi.
E é bom ter o coração aberto para sentir momentos como esse. Muitas pessoas, imersas nas banalidades do dia-a-dia, provavelmente passariam reto pela senhora. Elas perderiam a chance de estar com um anjo da guarda. Ou melhor, com dois.

Algumas pessoas são anjos, não é?

Um beijo!