domingo, abril 26, 2009

Por que não jornalismo?



Antes de tudo, gostaria de deixar claro que este não é um post contra o jornalismo.

- Oi! Você faz que faculdade mesmo?
- Comunicação. (essa sou eu)
- Ah, que legal! Você vai ser jornalista.
- Não!
- Ué, então o que você quer fazer?
- Não sei!!!!
- O que você gosta?
- Eu fiz comunicação porque gosto de ler e escrever.

Visão bem geral das coisas essa de gostar de ler e escrever pra fazer Comunicação. Eu podia gostar disso e fazer Letras. Ou talvez guardar estes gostos só pra mim e fazer Engenharia. Uma coisa não anula a outra, né não?

Pois bem, eis que eu no auge dos meus 17 decido que quero partilhar com o mundo minhas palavras e fazer disso meu ganha pão. E pra piorar, entrar na faculdade só me confirmou o que eu já sabia. Eu não sou uma jornalista.

Explico minha visão mal-humorada das coisas: a faculdade me ensinou a podar meu texto para que ele ficasse mais, digamos, jornalístico. Agora, tudo que eu tinha que fazer era contar no primeiro parágrafo tudo o que tinha acontecido. Se possível, na primeira linha, o mais resumido e objetivo possível. Bem-vindo ao jornalismo impresso.

Segunda coisa: esse negócio de que jornalista dá voz ao povo, denuncia as injustiças é muito legal mesmo. Admirável quem faz jornalismo investigativo. Mas me soa um pouco superficial dar voz à Dona Maria que reclama que nunca chega água encanada no bairro onde ela mora. O trabalho do jornalista é contar sim a história da Dona Maria, mas no dia seguinte ele já tá contando a história do Seu João: analfabeto e desempregado que roubou um sabão em pó e um pacote de bolachas no supermercado porque não tinha dinheiro pra dar uma vida digna à família. E no dia seguinte tá o repórter lá bonitão sorrindo pra contar a história de Seu Asdrúbal, faxineiro, que achou 5 mil dentro do lixo e entregou ao dono.

(...)

(já disse que não é um post contra o jornalista. leia até o fim, pô!)

E assim segue o jornalista, cheio de histórias contadas pelo caminho. Cheio de desabafos, reclamações e egos dos entrevistados. Tudo transformado em matéria pra cumprir o dead-line.

Mas nada substitui a sensação de ver a pauta se transformando em matéria. A emoção que dá de transformar os fatos em textos (ainda que não imparciais). De ver aquela matéria pra televisão editada do jeito que você imaginou.
Por que não jornalismo? Por que eu fujo do tradicional lead*. Por que minhas palavras são mais poéticas ou duras pra caber num texto pré-formatado. Por que a televisão vende uma fórmula onde não cabe os experimentalismo do cinema, ou, pra ser mais profundo, da arte.

E por que um jornal, após mostrar corrupção, violência e descaso, sempre termina com um boa noite e vai todo mundo ver a novela felizão!

Maaaaaaas, jornalismo não é só isso.
Tem espaço sim pra quem quer escrever mais do que um lead. Viva sempre as matérias especiais e aos colunistas. E tudo bem, eu me informo também pelas matérias tradicionais. Só não gosto de escrevê-las.

Um viva também para as revistas, blogs, matérias experimentais e a todos que estão tentando transformar o jornalismo em uma coisa mais real.

Por fim, um viva aos jornalistas! (viu só, falei que não era contra!)
Escrever quando nem sabemos se vai existir jornal daqui a 10 anos, quando quase ninguém mais gosta de ler. Quando tem um montão de analfabeto funcional sendo formado por aí.


E quando há dúvidas se deve ser obrigatório ou não o diploma pra ser jornalista. (espero, sinceramente, que antes dessa questão ser resolvida, a qualidade da formação acadêmica do profissional seja repensada. Afinal, se esses 4, 5 anos não estão fazendo diferença, o que aquele bando de universitário tá fazendo lá?)

Como em toda profissão, temos os bons e os maus jornalistas. E as boas maneiras de se exercer a profissão.

Um viva então aos bons jornalistas!
Ainda não me decidi se vou me juntar a vocês no futuro. Por enquanto, sigo lendo minha Folha todo dia, vendo sites de mais jornais e revistas. E, dando até boa noite pro Bonner.


* a primeira parte de uma notícia, geralmente posta em destaque relativo, que fornece ao leitor a informação básica sobre o tema e pretende prender-lhe o interesse (by wikipedia)

4 comentários:

Laila Hallack disse...

Adorei Gi! E concordo com tudo (ou quase tudo) que você disse!
"Maaaaaaas, jornalismo não é só isso". E é pensando assim que ainda quero seguir a profissão. =)

Só para tumultuar: você daria uma ótima jornalista. Dessas que não seguem o padrão superficial das notícias e conseguem manter a ética acima de tudo. Quem sabe você não muda de idéia?

beijo!

Álvaro Dyogo disse...

"existem dois tipos de jornalistas: os que querem dinheiro e os que querem informação. Nunca ofereça dinheiro aos que querem informação, nem informação aos que querem dinheiro." ACM, o político. ^^

Mari disse...

Chica!
Caí aqui no seu blog e não consegui parar de ler esse texto, concordando com tudo. Muito bom!

Vou passar por aqui mais vezes.

Beijinho!

RodrigoPedrotti disse...

Gih! excelente! me identifiquei ao extremo com o diálogo que abriu seu texto!