quarta-feira, setembro 23, 2009

Verdade ou consequência?


Existe uma grande diferença entre o que você quer e o que você precisa. Eu posso conquistar tudo o que eu quero e perceber no fim que isso não é o que preciso. Será que a gente sabe avaliar o que vai nos satisfazer daqui a alguns anos?

Talvez essa linha de raciocínio esteja errada e seja melhor optar pelo agora. Mas como viver, principalmente se você sofre de ansiedade nervosa como eu, sem pensar nas consequências do que fazemos hoje para o amanhã?

Não consigo achar um equilíbrio ao certo. A gente vai seguindo no que acredita, mas com dúvidas, é claro. Quem não tem dúvidas? Uma hora penso bem pra frente no meu futuro, outra, que tenho que aproveitar o momento. É assim com todo mundo, a gente sabe, mas dá um medo da nossa própria indecisão, de onde podemos nos levar.

Se tudo fosse soma, seria sempre ponto pra gente. Mas tem coisas que nos subtraem, que nos fazem voltar duas casas no jogo, perder uma jogada e até voltar ao início.


A vida, como um grande jogo de tabuleiro, começa com a gente querendo sempre chegar ao fim. Não é apenas uma questão de ganhar, mas de chegar lá mesmo. De provar pra você que você conseguiu. Ver o seu peão completando um ciclo.

Você não escolhe, tem que jogar Banco Imobiliário, War, Jogo da Memória, e tantos outros todos os dias.

Vamos então às regras desse jogo:
No início, conheça o trajeto que deverá percorrer.
No caminho, não trapaceie.
No fim, lamento decepcioná-los. Mas nunca tem fim. Temos sempre outras partidas pra jogar.

segunda-feira, setembro 07, 2009

A certeza


E então chega uma hora na vida que ela vem. Vem calma, mas segura. Não nos damos conta no começo da grandiosidade que é. Mas depois que acontece parece que não existia nada antes disso. É uma certeza que acompanha todos os seus passos, guia todos os seus caminhos e leva horas do seu pensamento.

Chega uma hora na vida que você vê o mundo com os olhos dos outros. Que sua alegria só é plena se a do outro também é. Que você sofre, briga, ri, chora. Pelo outro.

Paramos pra pensar que nossa vida são os outros. Somos os outros que amamos.



Vivendo um momento em que eu quero aproveitar todo o tempo com eles. Antes que acabe.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Ensaio sobre a cegueira




A gente se acostuma, mas não devia, já dizia Marina Colassanti. A sociedade aceita tudo passivamente, mas não acha que está tudo bem. Seus movimentos, seu cansaço, sua indignação, seu discurso, não condizem com suas ações. Ou sua grande falta de ação. A gente reclama da fila do banco, mas fura fila. A gente reclama da violência, mas não ouve os próprios filhos em casa. E ouvir é o primeiro passo pra entender. Mas estamos todos surdos. A gente se acostuma a acordar desejando mudar o mundo. A ir dormir frustrado e paralisado diante da própria apatia.

Esperamos por aquilo que nunca vem. Esperamos que uma oportunidade surja. E quando ela vem, vem bem diante da nossa cara, quase gritando, tão de perto, mas a gente só consegue pensar que depois vem outra chance e sempre haverá tempo. A gente se acostuma a perder. Não que isso seja de todo mal, mas nos convencionamos ao conformismo. A gente lê jornal, sabendo tudo o que está acontecendo, fica mais fácil mudar, mas não muda. Ninguém quer mudar. Ninguém sabe como. Mudar implica em alteração, em trabalho duro. Em não saber se vai dar certo.

E estamos num tempo que arriscar não vale à pena, tempo em que uma pessoa não vai mudar o mundo sozinha. Tempo em que protestos são em vão, tempo de egoísmo, de falta de se indignar, de se fazer ouvir. Estamos também mudos, preferimos nos calar diante de tudo porque uma só voz levantada não chega a lugar algum. E quando falamos, não refletimos sobre aquilo que acreditamos, nem acreditamos em nós mesmos!

Esquecemos de aproveitar as coisas boas da vida. Quando estamos de folga, ficamos neuróticos pensando em tudo o que temos para fazer depois, e quando estamos cheios de trabalho, pensamos em quanto seria bom dar uma pausa na vida. Apressados, esquecemos de ver o sol, de sentir a simplicidade da vida pulsando em nosso peito, de sorrir por dentro. Não conseguimos estabelecer prioridades e quando temos alguma conquista, logo partimos para outra luta, porque a gente nunca tem tempo de viver de verdade. Estamos privados de sentir a vida.

Não temos sequer a chance de parar pra respirar, não existe a possibilidade de parar e refletir, por que as reflexões não levam a nada. Pensar só nos torna consciente dos problemas, o que não significa absolutamente nada se a partir daí não se cria uma ação. Não há estímulo para percebermos o cheiro das flores, daquela comida feita em casa, da terra molhada da chuva. Ninguém quer falar sobre isso. Estamos esgotados. Perdemos todos os nossos sentidos diante de uma vida sem sentido.

Resta-nos, porém, um único sentido. Resta-nos enxergar, não com os olhos cansados, não sob a ótica de alguém. Resta-nos olhar de verdade para as pessoas, nos desprendermos de convenções, dos conceitos pré-determinados, das amarras da vida. Não precisamos de óculos, nem de lentes de aumento. Não estamos cegos por fora, estamos cegos por dentro. Só enxergamos o vazio, quando na verdade há um infinito para se descobrir. Só precisamos saber para onde olhar.